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Segurança no Trabalho

Stresse no Trabalho

O que é?


O stresse, de uma forma muito geral, corresponde à incapacidade de um indivíduo para lidar com determinada situação a que está exposto, sendo percecionado pelo mesmo um desequilíbrio entre as exigências que lhe são feitas e os recursos físicos e mentais disponíveis para dar resposta à situação.



Stresse não é o mesmo que pressão


O stresse surge na sequência de um fenómeno a nível psicológico que ocorre como resposta a uma exigência (libertação de mensageiros químicos – hormonas - no sangue que corresponde ao processo de ativação), que, não sendo “resolvida”, pode perturbar o indivíduo em várias dimensões.

O stresse pode ocorrer quando a exigência é demasiada, mas também pode ocorrer quando as tarefas não constituem desafio suficiente.

O stresse não afeta todos de forma igual.

 

Relação do U invertido entre a pressão e o desempenho

O stresse não é a ativação, não é a pressão, não é a exigência, mas sim o desequilíbrio entre a pressão colocada sobre um indivíduo e os recursos que o mesmo tem disponíveis para lidar com as exigências.


 

Causas


As causas, sintomas e consequências do stresse, embora objeto de vários estudos, não são lineares. O stresse pode resultar de fatores pessoais, como o desequilíbrio entre o trabalho e a vida familiar, ou de fatores relacionados com a envolvente social, ambiental e organizacional em que está inserido.

São exemplos de fatores de stresse relacionados com o trabalho:
  • Exigências muito altas ou muito baixas em relação às competências;
  • Falta de clareza na definição das funções e responsabilidades;
  • Falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controlo sobre a forma como executa o trabalho;
  • Apoio inadequado por parte de superiores ou de colegas;
  • Intimidação, assédio moral ou sexual e violência de terceiros;
  • Discriminação (por género, idade, etnia, nacionalidade, deficiência, orientação sexual, etc.);
  • Relações hierárquicas;
  • Má gestão de mudanças organizacionais;
  • Insegurança laboral, estagnação da carreira, remuneração baixa;
  • Comunicação ineficaz na organização.
 
O stresse que um indivíduo sente no local de trabalho pode, contudo, não ser provocado por fatores de risco psicossocial no trabalho, mas sim por questões pessoais ou fatores sociais.

São exemplos de causas de stresse fora do trabalho:
  • Doença/Luto;
  • Desequilíbrio entre trabalho e vida familiar e pessoal;
  • Finanças;
  • Principais acontecimentos da vida, p. ex. casamento, gravidez e cuidar de crianças, divórcio, mudança de casa, entre outros;
  • Questões relacionadas com as condições em que vive ou estilo de vida, hábitos – álcool, drogas, entre outros;
  • Relacionamentos pessoais.

De uma forma geral, o indivíduo sente stresse no trabalho quando perceciona que existe um desequilíbrio entre as exigências que lhe são impostas e os recursos físicos e mentais de que dispõe para lhes dar resposta. 

 

Efeitos


A nível do indivíduo o stresse pode gerar efeitos a nível emocional, cognitivo, comportamental ou ainda problemas de saúde ou mentais. 
 
 
Reações do trabalhador Exemplos
Emocionais Irritabilidade, ansiedade, mau humor, isolamento, fadiga
Cognitivas Dificuldades de concentração, memória, em tomar decisões
Comportamentais Hábitos nervosos, consumo de substâncias psicotrópicas, isolamento, menos pontual, mais agressivo
Problemas de saúde físicos ou mentais Trabalhar adoentado, ausências do trabalho mais frequentes e/ou prolongadas
 
Embora o stresse não seja uma doença per si, pode causar perturbações no organismo que, por sua vez, podem provocar danos a longo prazo nos sistemas e órgãos do corpo. O stresse pode estar na origem do desenvolvimento de úlceras pépticas, doenças inflamatórias do intestino e lesões músculo-esqueléticas, bem como hipertensão e desenvolvimento de doenças cardíacas ou cardiovasculares. O stresse pode ainda debilitar o organismo, alterando as suas funções imunitárias e tornando o indivíduo mais suscetível a doenças. O impacto destas perturbações é potenciado pela falta de descanso que permita a recuperação do organismo.

O esgotamento físico de caráter depressivo relacionado com o trabalho, e resultado da exposição a um stresse extremo, é conhecido como Síndrome de Burnout.

Relativamente aos efeitos a nível da organização, o stresse pode aumentar e prolongar o absentismo, especialmente por motivo de doença, reduzir o desempenho, aumentar a rotatividade negativa dos trabalhadores e o número de acidentes de trabalho.
 
Efeitos a nível da organização Exemplos
Aumento do absentismo Ausência por doença devido a problemas de saúde relacionados diretamente ou indiretamente com o stresse, devido ao fraco compromisso ou como forma de lidar com o stresse
Redução do desempenho Ineficácia no trabalho, fraca concentração, fadiga, menos pontualidade
Aumento dos acidentes de trabalho Comportamento de risco, fraca concentração, falta de comunicação
Rotatividade dos trabalhadores Compromisso fraco, exigências excessivas, conflitos, fraca gestão da mudança
 



O que fazer


A informação e motivação da entidade patronal e dos trabalhadores para a promoção de um ambiente de trabalho seguro são fundamentais para desencadear uma gestão que promova a mitigação dos riscos psicossociais e, desta forma, o stresse no trabalho.

Gerir os riscos, avaliar, agir (ações preventivas e corretivas), monitorizar e reavaliar:
  • Intervir no local de trabalho com a finalidade de diminuir ou eliminar os fatores de stresse;
  • Alterar o ambiente físico, otimizar as condições de trabalho e implementar pausas de trabalho de forma a promover o descanso e o convívio entre trabalhadores.

Promover a sensibilização no local de trabalho, com vista a trabalhar por um entendimento comum do stresse:
  • Promover uma postura de abertura tanto por parte dos trabalhadores, como das organizações;
  • Ganhar o compromisso com a gestão do stresse (liderança das organizações);
  • Promoção da resiliência da equipa através de uma boa gestão;
  • Organizar atividades para os trabalhadores que promovam a diminuição de fatores de stresse organizacionais;
  • Formar/Informar os trabalhadores para a temática.

Promover a resiliência pessoal e, consequentemente, da equipa e da empresa
Promover a saúde e bem-estar dos trabalhadores (influência de fatores como a alimentação saudável e atividade física)
Desenvolvimento de capacidades como gestão de tempo ou resolução de conflitos

Intervir e apoiar quando se identificar uma situação relacionada com problemas de saúde e bem-estar relacionados com stresse, envolvendo a medicina do trabalho sempre que necessário.
 
O controlo dos riscos psicossociais deve ter por base a identificação dos fatores de risco e respetiva avaliação do risco, com adoção de medidas corretivas e preventivas, a nível individual, organizacional ou de interface individual-organizacional, que permitam controlar o risco, à semelhança do que é feito para os outros tipos de riscos presentes no local de trabalho (p. ex. riscos químicos).

É também importante identificar a montante que alterações na organização podem fomentar riscos psicossociais, assim como as consequências possíveis, por forma a definir que medidas preventivas devem ser implementadas, monitorizando a eficiência das mesmas.

A OIT aconselha ainda uma maior autonomia dos trabalhadores no que diz respeito às suas tarefas e uma aposta na melhoria da comunicação organizacional de forma a permitir a participação dos trabalhadores na tomada de decisões. Outra medida sugerida pela OIT passa pela implementação de sistemas de apoio social aos trabalhadores no local de trabalho, atendendo à interação entre desempenho no trabalho e as condições de vida dos trabalhadores. 

 
Do ponto de vista da saúde no trabalho, muito embora em Portugal não sejam incluídas na Lista de Doenças Profissionais, a OIT incluiu em 2010 perturbações de foro mental e comportamental na sua Lista de Doenças Profissionais, diferenciando-as em dois pontos:
- Perturbação de stresse pós-traumático;
- Outras perturbações de foro mental e comportamental, para as quais é estabelecida cientificamente uma relação direta, ou a mesma é determinada por métodos adequados às condicionantes e práticas nacionais, entre a exposição a fatores de risco decorrentes de atividades de trabalho e a perturbação de foro mental e comportamental identificada no trabalhador.

A valorização da atividade de segurança e saúde dentro da organização contribui de uma forma geral para o controlo dos riscos psicossociais, na medida em que valoriza a segurança do trabalhador e o seu bem-estar.

A prevenção da exposição do trabalhador a riscos psicossociais, à semelhança do que acontece na prevenção dos diferentes tipos de riscos profissionais, reduz o absentismo e custos com a saúde, aumentando a eficiência, a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores, da empresa e da sociedade.
 


NÚMEROS NA EUROPA (EU-OSHA)

 
  • O stresse relacionado com o trabalho é o 2.º problema de saúde mais referido na Europa, ficando atrás apenas das perturbações musculo-esqueléticas.
 
  • O stresse está na origem de 50–60% dos dias de trabalho perdidos na Europa
 
  • Causas mais comuns de stresse relacionado com o trabalho (inquérito EU-OSHA):
    • 1º Reorganização do trabalho ou insegurança laboral (72%)
    • 2º Horários de trabalho alargados ou volume de trabalho excessivo (66%)
    • 3º Intimidação (bullying) e assédio no trabalho (59%)
 
  • Cerca de 4 em cada 10 trabalhadores sente que o stresse não é um tema devidamente abordado no seu local de trabalho.
 
  • As ausências relacionadas com o stresse tendem a ser as mais longas